Por Paulo Cesar
Minhas considerações sobre um novo artigo escrito pelo
Denis Monteiro
Pela
falta de tempo para debater, irei direto ao ponto, transcrevendo as palavras do
Denis sempre em itálico. Muito dificilmente darei sequência a este debate.
Se
Cristo tivesse de fato morrido por cada pessoa, não só teríamos um grave
problema teológico, mas também estaríamos considerando que a obra de Adão seria
maior que a obra de Cristo, pois a obra de Adão de fato fez com que todos
fossem condenados, e a de Cristo não faria com que todos fossem salvos.
O
Denis dá a entender que a superioridade da obra de Cristo se dá pelo ou tem a
ver com número total de salvos dentre aqueles por quem ele morreu, e que se o
ato de Cristo não fizesse com que todos aqueles por quem ele morreu fossem
salvos, seu ato seria inferior ao de Adão, mas esta é uma falsa conclusão do
registro bíblico. Mais ainda, essa consideração é irrelevante para o ponto em
questão e perverte a razão do ato de Cristo ser superior ao de Adão. Pois se em
ambos os casos todos são condenados, no caso de Adão, e todos são salvos, no
caso de Cristo, em que o ato de Cristo foi superior ao de Adão? Em nada. Se
formos tratar o assunto em termos de quantidade, teríamos que concluir que o de
Adão foi superior, pois ele condenou mais pessoas do que o ato de Cristo salvou.
A
quantidade a que Paulo alude é de um para muitos, a saber, que o juízo por meio
de Adão veio de uma só ofensa, mas o
dom gratuito por meio de Cristo veio de muitas
ofensas (Rm 5.16). O ato de Cristo foi superior ao de Adão porque, 1) ao passo
que um trouxe morte, o outro trouxe abundância de vida e, 2) porque o ato de
Cristo reverteu as consequências do ato de Adão, e isso independentemente da quantidade, totalidade ou proporcionalidade de
salvos e perdidos. Não se calcula o valor ou a superioridade do ato de Cristo
pelo número de salvos e perdidos.
Se Deus vê desde a eternidade a fé de tal pessoa Deus
está se baseando unicamente na qualidade de tal pessoa, e não em Seu amor (Ef
1.4).
Como o Denis disse
que fazer acepção é basear-se em alguma “circunstância externa” ou “mérito”, e
nega que a fé seja uma circunstância externa, eu acredito que posso concluir
que ele enxerga a fé, pelo menos na teologia arminiana, como uma qualidade
meritória. Isso é um absurdo, logicamente. Não apenas porque a fé não é uma
qualidade pessoal, mas também porque a fé é justamente o reconhecimento da
falta de méritos e é vista nas Escrituras como oposta às obras, estas sim
dignas de mérito.
Dizer, também, que
se Deus enxerga a fé de alguém ele está se baseando na qualidade de uma pessoa
e não em seu amor é outra conclusão indevida. Deus tem um tipo de amor especial
pelos crentes e se ele elege os crentes, ele obviamente está se baseando em seu
amor por eles.
Contrário ao que o
Denis sugere, o Arminianismo ensina que Deus elege uma pessoa pelo fato dele
ver Cristo nela. Essa pessoa é eleita não pelo que ela fez, mas pelo que ela é em Cristo. Ela é uma com Cristo e,
portanto, participa de sua eleição que aconteceu antes da fundação do mundo. Já
a eleição no Calvinismo acontece à parte de Cristo e sua obra. Deus elege os
seus sem que estes sejam vistos como unidos a Cristo, ou seja, ele elege pessoas
vistas como incrédulas, sem qualquer união com Cristo, e Cristo só entra em
cena numa segunda etapa, para formalizar a salvação daqueles que Deus elegeu
incondicionalmente. Isso nem de perto se parece com a eleição bíblica, que
aconteceu “em Cristo” (Ef 1.4). Qualquer doutrina da eleição que não coloca
Cristo em seu centro não é digna de crédito.
O que Deus vê no pecador como um ato aceitável para que
Deus o eleja, sendo que a nossa justiça é considerada como trapos de
imundícias?
Essa pergunta já foi
respondida acima. Deus vê Cristo no crente e por isso este é eleito. Mas a
pergunta é completamente desvirtuada, pois ela tem em mente a justiça própria
do homem e não a justiça que lhe é atribuída graciosamente quando ele crê.
Veja que a teologia arminiana nega o fato da pessoa ser
pecadora e incapaz, por si mesma, crer em Deus, sendo este pecador cego e surdo
pelo o pecado.
Esta é uma
deturpação comum da teologia arminiana. Contrário ao que diz o Denis, o
Arminianismo ensina que o homem está morto em delitos e pecados e que ele não
pode, de si mesmo, crer em Cristo para a sua salvação. O Arminianismo não
difere em nada do Calvinismo sobre os efeitos da Queda. Ele difere do
Calvinismo no entendimento de como Deus supera a total depravação do homem.
Se Romanos 9.11,12 faz menção a nações pelo o fato de
fazer referência a Malaquias 1.2,3, o que dizer de Mateus 2.15 que diz em
relação a Jesus: "Do Egito chamei o meu Filho; sendo que Oseias, que é a
referencia de Mateus, cita este verso em menção a nação de Israel.” ?
Mt 2.15 trata de
outro assunto e não deve ser misturado com este. Se lá o significado é um, isso
não quer dizer que ele deve ser repetido aqui também. Além disso, Mateus faz
uma analogia entre a nação de Israel e Cristo e vê no episódio de Cristo o
cumprimento de uma profecia análogo ao que aconteceu com o povo de Deus no
Egito, mas o mesmo não acontece em Rm 9.11, 12.
Que incoerência! Veja claramente que Marcos diz que a
Ceia (sacramento que expressa a morte de Cristo) não pode ser dado a todos.
Como que, se a Santa Ceia não pode ser dado a todos, a morte de Cristo tem que
ser em favor de todos?
Acredito que o Denis
não conhece este comentário de Calvino: “Pela palavra muitos ele não quer dizer
uma parte do mundo somente, mas toda a raça humana, pois ele contrasta muitos
com um, como se ele tivesse dito que ele não será o Redentor de um homem
apenas, mas morrerá a fim de livrar muitos da condenação da maldição.” Será que
ele também exclamará “Quanta incoerência, Calvino!”? Duvido muito.
Mas o que o alcance
daqueles que podem receber a Ceia tem a ver com a provisão feita por Cristo? Praticamente
nada. A morte de Cristo é uma provisão para os pecadores, a Ceia é um
sacramento para os santos. Além disso, acredita-se que Judas participou da
instituição da Ceia e recebeu o pão das mãos de Jesus.
Engaçado como o arminiano cai em contradição. Por que?
Veja o que ele diz sobre Hebreus 2.9, que "muitos" não equivalem a
"todos".
Eu cairia em
contradição se dissesse que “todos” sempre
significa “muitos (e não todos)” em todos os contextos e negasse que “todos”
significasse “muitos” em Hebreus. Como eu não disse isso, qual o problema de
afirmar que os dois são iguais em significado em um contexto e diferentes em
outro? Não há nenhum problema nisso.
E como eu disse que
Hb 2.9 está no singular (cada) e não no plural (todos), onde poderia haver
contradição? Só na cabeça dele.
Sendo que em Romanos 5 ele diz que: "Cristo
derramou seu sangue por muitos", ou seja, "todos". Essa mesma
alternância ocorre entre "todos" e "muitos". Veja,
"todos" = "muitos". Mas em qual posição essa pessoa se
encontra?
Chega a ser curioso
que ele concordou comigo que uma mesma palavra pode possuir significados
diferentes em contextos diferentes, mas insiste que eu devo pegar o significado
de uma palavra em um contexto e levá-lo para todos os outros contextos sob pena
de ser taxado de contraditório. Ora, isso sim é contradição! Se carregar o
significado de uma palavra de um contexto para outro é uma má prática de
interpretação, como ele mesmo reconhece, por que ele me pede, a fim de me
mostrar coerente, para fazer isso? Quer mais incoerência do que isso?
Sim, em Apocalipse mostra claramente classes de pessoas.
Mas em Hebreus não?
Em Hebreus não. Definitivamente
não. Quais seriam as classes de pessoas em vista ali? Servos, livres, judeus,
gentios, ricos, pobres, velhos, jovens, enfim, quais? Não há nenhuma.
"Pois tanto o que santifica como os que são
santificados, vêm todos de um só; por esta causa ele não se envergonha de lhes
chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, cantar-te-ei
louvores no meio da congregação. E outra vez: Porei nele a minha confiança. E ainda:
Eis-me aqui, e os filhos que Deus me deu." (Hb 2.12-13).
A não ser que
provado o contrário, deve-se interpretar uma palavra pelo que precede o
versículo, não pelo que sucede. E o contexto precedente é este:
“Porque não foi aos
anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Mas em certo lugar
testificou alguém, dizendo: Que é o homem,
para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste
um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o
constituíste sobre as obras de tuas mãos; todas as coisas lhe sujeitaste
debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que
lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe
estejam sujeitas. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que
fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para
que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” Hb 2.5-9
O autor está falando
do homem, do gênero humano, não de classes. Foi pelo homem (por “cada” homem,
como eu disse anteriormente) que é afirmada a morte de Cristo. Querer
interpretar esse “cada homem” pelo contexto que sucede é um erro notório de
interpretação. Isso sem falar na insistência de achar que o autor de Hebreus está
falando de classes de pessoas. Ele claramente não está.
A falácia é tão grande enraizada na mente do arminiano
que ele não sabe interpretar textos tão fáceis.
Eu sinceramente
gostaria de saber onde cometi esta imensa falácia. Eu apenas disse que a ênfase
naquele texto era que a morte de Cristo se deu em favor de pecadores, e não
santos. Onde está a falácia?
Falácia há na
interpretação calvinista ao acreditar que, porque é dito que Cristo morreu pela
Igreja, então ele não morreu por mais ninguém. Essa sim é uma falácia de
primeira grandeza!
Veja as implicações que há em Romanos 5.6,8 se crermos
na Expiação Ilimitada. No verso 9 mostra que por aqueles que por quem Cristo
morre são justificados, ou como diz a passagem "sendo justificados",
que na gramática grega está no particípio passivo aoristo que resulta uma ação
passada sem que o que recebe tal ação reaja a ela.
O leitor atento
facilmente perceberá que há um grave erro de interpretação aqui. O texto
sagrado diz,
“Logo muito mais
agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.”
Rm 5.9
O texto não diz,
como acredita o Denis, que aqueles por quem Cristo morreu são justificados, mas
que aqueles que foram justificados serão salvos. Ele pode achar que o versículo
8 unido ao 9 leva a esta conclusão, mas isto é completamente falso. Como vimos,
o ponto no versículo 8 é o fato de Cristo ter morrido por pecadores (e não
santos), dos quais os crentes faziam parte, e não que Cristo morreu apenas por
um número limitado de pessoas.
No verso 10 Paulo mostra que "fomos reconciliados
com Deus". Se Cristo morre por toda a humanidade, toda a humanidade está
reconciliada com Deus.
E não é que o Denis
acertou uma conclusão! Embora a conclusão esteja correta, a sua aplicação ao
versículo 10 está errada.
A morte de Cristo
realmente reconciliou o mundo com Deus. Antes que ele grite que isto é um
absurdo, devo afirmar que não sou eu quem estou dizendo, são as Escrituras:
“Isto é, Deus estava
em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e
pôs em nós a palavra da reconciliação.” 2Co 5.19
Este é o aspecto objetivo da reconciliação.
Isto significa que toda a humanidade foi reconciliada com Deus, mas não
significa que toda a humanidade está ou será salva. Um é o aspecto objetivo, outro
o subjetivo. Por isso Paulo diz, no versículo 20, que, apesar de Deus ter se
reconciliado com o mundo, o mundo precisa se reconciliar com Deus (2Co 5.20)
Ou seja, o Denis considera um disparate algo
que as Escrituras afirmam, que Deus reconciliou em Cristo o mundo consigo
mesmo. Certamente ele vai negar isso, dizendo que “mundo” não significa “todas
as pessoas do mundo” e todo aquele repertório de evasivas que a gente já
conhece dos calvinistas.
Mas vejamos: "fomos reconciliados" na
gramática grega mostra que está no aoristo passivo, ou seja, uma ação passiva
ao que recebe. Mais uma vez, se Cristo morre por toda a humanidade, toda a
humanidade está reconciliada (katallasso) com Deus e sendo esta humanidade
passiva a ação de Cristo em favor de todos que resulta que "já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Rm 5.10, negrito
acrescentado).
O Denis mais uma vez interpreta o texto
erroneamente. Paulo não está falando que todos aqueles por quem Cristo morreu
serão salvos da ira. O versículo 10 é uma repetição do versículo 9, e nesse
podemos ver claramente que Paulo está falando daqueles que foram “justificados
pelo seu sangue”. Ele não está falando de todos aqueles por quem Cristo morreu,
nem daquela reconciliação objetiva que está em foco em 2Co 5.19. Aqueles que
foram justificados, ou seja, completamente reconciliados com Deus, serão salvos
da ira futura.
Ele dá grande ênfase na gramática grega,
dizendo que a voz é passiva, ou seja, ser justificado é “uma ação passada sem
que o que recebe tal ação reaja a ela”. Ora, isso é óbvio demais e o arminiano
nada tem a dizer contra isso. O homem é completamente passivo na justificação.
Sua declaração de justo acontece no tribunal de Deus e o crente não participa ativamente
dessa declaração. Portanto, toda essa ênfase não favorece em nada o calvinista.
Portanto,
finalizo afirmando que continua de pé a minha refutação ao Pr. Ciro, pois as
colocações do arminiano não possuem fundamento teológico para descredenciar o
meu artigo.
Eu já acho que a refutação do Denis ao
artigo do Pr. Ciro nunca esteve de pé. Sua base se mostrou, mais claramente
nessa minha segunda refutação, muito frágil.
Minhas considerações sobre um novo artigo escrito pelo Denis Monteiro