sábado, 12 de junho de 2010

“O que acontece com os que morrem em Cristo?”

Pr. Roberto Carlos Cruvinel, ThM DD



Considerações



A morte é uma das duas realidades incontestáveis. A primeira é a própria vida, e uma vez definida a existência de um ser criado, (sim, porque Deus é o Criador, existe, porém não morre), é lógico depreender que ele vira a fenecer.        
            Num certo sentido a morte (do grego: qa/natoj [thanatós – aparece 120 vezes no NT grego – significando: morte, separação da alma do corpo pela qual a vida na terra fica terminada], tem considerações escatológicas.     
            Da realidade da morte algumas perguntas poderiam surgir. Em uma de suas obras R. C. Sproul apresenta uma lista. [1] Vejamos:

  • Os santos do AT tinham certeza de uma vida pessoal depois da morte? R: Parece que aos judeus do período veterotestamentário era grande essa discussão. O conceito de vida após a morte no AT (indicado pela freqüente menção da palavra Sheol [2]), é um tanto vago; a morte é descrita como um lugar  além do túmulo para onde vão as pessoas boas e más. Vejamos as colocações de Jó (Jó 14.14 – mostra um momento de desesperança – Jó 19.25 – mostra-se confiante. Davi estava certo de ir até a criança morta (2 Sm 12.23), o que pode demonstrar a sua confiança na vida após a morte. A realidade da vida futura não era desconhecida entre os santos do AT.

  • Os judeus crentes do AT foram para o céu, ou havia uma “sala de espera” para eles até a morte e ressurreição de Jesus? R: A igreja Católica Romana tem a doutrina do limbo[3]. Alguns interpretam o texto de 1 Pedro 3.19 como Jesus indo pregar aos santos do AT  identificados aqui como “espíritos em prisão”, que estavam sendo mantidos cativos até que a Redenção de Cristo fosse completada. Jesus os libertou para entrarem no paraíso com ele (Ef 4.8,9)[4]. Jesus era o “primogênito dos mortos”; Ele foi primeiro ao lugar dos mortos, (seio de Abraão[5]) e conduziu os cativos levando-os para o seu futuro de glória.

  • A Bíblia nos diz como será o céu? R: Apocalipse 21 e 22. Alguns entendem estes textos são puro simbolismo. Todavia, os simbolismos apontam para algo mais sublime.

  • Se o céu é o destino último para o cristão, por que a Bíblia apresenta tão pouca descrição a seu respeito? R: céu (do grego ou)rano/j [uranós] – aparece 272 vezes no NT grego). É muito difícil discutir algo que nunca experimentamos, talvez seja por isso que a Bíblia use tantas analogias acerca do céu. A sublimidade do céu é algo que transcende a nossa capacidade de antecipar (1 Co 2.9). A Bíblia diz o que o céu não é ( ler Ap 21.4).

  • Existem graduações no céu pelas quais, como resultado de uma vida de boas obras, um cristão tem uma posição mais alta ou uma qualidade de vida melhor do que alguém que escapa por um fio no último suspiro? R: Alguns teólogos têm o entendimento que haverá essa graduação, com base em alguns textos (Lc 19.11-27; 2 Co 5.10, 1 Co 3.14,15; Dn 12.3). A diferença nos galardões ou nos graus de satisfação no céu é em geral descrita em termos de circunstâncias objetivas. Por exemplo, podemos supor que um cristão muito fiel receberá um quarto grande na casa do Pai; um crente menos fiel receberá um quarto pequeno.[6]

  • Nós nos reconheceremos uns aos outros no céu? R: Nnhuma referência bíblica afirma especificamente que nos reconheceremos uns aos outros. Mas o ensino implícito das Escrituras é tão intenso e poderoso que não creio que não haja realmente qualquer dúvida de que seremos capazes de reconhecer uns aos outros no céu.[7]

  • Quando uma pessoa morre, para onde vão seu espírito e seu corpo até a Segunda Vinda? R. Essa colocação é chamada de Estado Intermediário. Alguns defendem que a alma fica “dormindo” ou “descansando”, baseando-se em textos como: 1 Ts, 4.13; 1 Co 15.18,20. Quando o texto usa a palavra “dormem” para designar a morte dos santos, usa-a como uma figura retórica, como um eufemismo. Compare os textos de Hb 3.11,18 com relação a peregrinação de Israel à Terra Prometida e Hb 4.9-11 com relação ao “descanso” que aguarda os crentes.
Ao morrermos a alma vai estar com Deus (ler Lc 23.43 – o ladrão na cruz; Lc 16.19-31 – o rico e Lázaro). Ler Apocalipse 6.9-11; Mt 17.3,4.
O corpo deve voltar ao pó – ler Eclesiastes 12.7; Gn 2.7.

  • O que acontece com as crianças que morrem antes de poderem aceitar o evangelho? R: O NT não propõe um ensinamento explícito sobre o assunto, todavia, de acordo com minha tradição teológica, creio que as crianças que morrerem ainda pequeninas são contadas entre os redimidos.



Muitas dessas perguntas apresentam um elevado grau de dificuldade para obtermos a resposta. Certo é que, Deus não diz tudo o que desejamos saber, mas diz tudo o que precisamos saber.




[1] SPROUL, R. C. – Boa Pergunta! – págs. 183 e 184 - Editora Cultura Cristã – 1ª Edição – 1999.
[2] Sheol – Palavra hebraica que designa o lugar dos mortos. O mesmo que hades e inferno. É o lugar onde as almas dos iníquos aguardam o Juízo Final. (Dicionário Teológico – Claudionor Corrêa de Andrade – pág. 264 – CPAD – 7ª Edição – 1998).
[3] Limbo – Derivado de uma palavra germânica que significa “orla” ou “margem”, o limbo foi projetado pelos teólogos medievais como o lugar ou estado daquelas almas que, depois da morte, não se encaixavam nitidamente nem no céu nem no inferno. Havia na realidade, dois limbos. O limbo dos pais (limbus patrum) era reservado às almas dos santos do AT; a descida de Cristo ao Hades, de conformidade com o Credo, era interpretada como Seu ato de libertar essas almas e levá-las ao céu...Mais importante era o limbo das criancinhas (limbus infantum). A maioria dos bebês nascidos antes do desenvolvimento da medicina moderna morria antes de chegar a uma maturidade suficiente para cometer pecado pessoal sério...Muitos teólogos medievais, tais como Pedro Lombardo e Tomás de Aquino, consideravam o conceito agostiniano demasiadamente rigoroso  e postulavam o limbo como um estado perpétuo livre das dores dos sentidos, mas sem a salvação sobrenatural e o gozo de Deus... – (Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã – vol. II - J. P. Donnelly – pág. 437 – Soc. Religiosa Edições Vida Nova – 1992).
[4] O Dr. R. N. Champlin, PhD, em sua obra “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”, volume 4 – págs. 599 e 600 – Editora e Distribuidora Candeia – 1995, apresenta, entre outras, a hipótese da interpretação do texto acima ser realmente o resgate dos santos do AT que aguardavam a redenção propiciada pelo Messias do ponto de vista perspectivo, ao passo que nós os cristãos hodiernos temos nossa fé fundamentada na redenção do ponto de vista retrospectivo uma vez que o Messias já veio, morreu na cruz, ressuscitou e voltará para nos buscar.
[5] Seio de Abraão – Uma figura de linguagem usada por Jesus na parábola de Lázaro e o rico (Lc 16.22,23), ilustrando o ‘grande abismo’ posto entre a bem-aventurança do paraíso e a miséria do hades (cf. Mt 8.11). O falecido Lázaro é descrito como alguém reclinado próximo de Abraão, na festa dos benditos, segundo a maneira judaica, que levava a cabeça de uma pessoa quase a encostar-se contra o peito de outra  que estivesse reclinada mais para cima. E era nessa posição que ficava o hóspede mais favorecido em relação ao anfitrião (exemplo Jo 13.23). Reclinar-se no seio de Abraão, na linguagem talmúdica, era igual a entrar no paraíso (cf 4 Mc 13.17)...(O Novo Dicionário da Bíblia – pág. 1499 – Vida Nova – 1997).  Seio de Abraão – Designação que os antigos hebreus davam ao lugar para onde iam os justos logo após a sua morte. Acreditava-se que, neste paraíso, localizado na mesma dimensão do Hades, os bons estariam a desfrutar da companhia de Deus e dos patriarcas até a ressurreição de seus corpos (Lc 16.22,23) – (Dicionário Teológico – Claudionor Corrêa de Andrade – pág. 262 – CPAD – 7ª Edição – 1998).
[6] ERICKSON, Millard J. – Introdução à Teologia Sistemática – pág. 533 – Edições Vida Nova – 1997.
[7] SPROUL, R. C. – Boa Pergunta! – pág. 189 - Editora Cultura Cristã – 1ª Edição – 1999.

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