Por Alex Belmonte
O termo Escatologia deriva de duas palavras gregas: escathos e logos
que se traduzem por “último” e “estudo” ou “tratado”. É o estudo ou
doutrina das últimas coisas. É chamada bíblica, no nosso caso, porque
ela pode ser extrabíblica. A palavra Escatologia não é uma exclusividade
da linguagem cristã, porém é quase unânime o seu uso no âmbito cristão e
religioso.
No estudo da Escatologia Bíblica, é de
caráter fundamental, ter o cuidado em não apresentar falsas
interpretações, evitando, com isso, exposições infundadas e
especulações. Deus nos adverte dizendo que devemos “manejar bem a
Palavra da verdade.” (2ª Tm.2.15). “Porque a visão é ainda para o tempo
determinado, e até ao fim falará e não mentirá; se tardar, espera-o,
porque certamente virá, não tardará”.(Hc.2.3).
Mas existe outro tipo de Escatologia que
poucas pessoas conhecem, mas que se torna importante no profundo estudo
das “ultimas coisas”: Trata-se da Escatologia das Religiões.
A Escatologia das Religiões
Chamamos de Escatologia das Religiões as
interpretações proféticas dos últimos acontecimentos na visão das
principais religiões do mundo. Dessa forma, temos por propósito expor as
Escatologias Islâmica, Budista e Judaica. Quanto às demais religiões
consideradas grandes e expressivas, entendemos que possuem a mesma raiz
interpretativa, diferindo apenas em pequenos detalhes e
particularidades.
A Escatologia Islâmica
O Islamismo é uma das quatro religiões
monoteístas do mundo. Está baseada nos ensinamentos de Maomé (570-632
d.C.), chamado “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, o Corão.
A palavra islã significa submeter, e exprime a submissão a lei
e a vontade de Alá. Seus seguidores são chamados de muçulmanos, que
significa aquele que se submete a Deus.
Ao partirmos para a exploração da Escatologia Islâmica precisamos primeiramente saber quais as raízes teológicas.
Segundo os muçulmanos, o Corão contém a
mensagem de Deus a Maomé, as quais lhe foram reveladas entre os anos610
a632. Seus ensinamentos são considerados infalíveis. É dividido em 114
suras (capítulos), ordenadas por tamanho, tendo o maior 286 versos. A
segunda fonte de doutrina do Islã, a Suna, é um conjunto de preceitos
baseados nos Ahadith (ditos e feitos do profeta).
Segundo a Escatologia Islâmica, a
História humana terminará com um julgamento final. Antes, porém, alguns
personagens apocalípticos aparecerão, como o Mahdi, espécie de Messias.
Esse é descrito como a mesma figura do que conhecemos como o Anticristo,
que para o Islamismo aparecerá entre o Iraque e a Síria.
De acordo com o Alcorão – Surata 10.109,
um mulçumano que espera escapar da ira de Alá e do tormento das chamas
do Inferno, precisa esforçar-se diligentemente, para cumprir os
requerimentos apresentados nos Cinco Pilares. Deus levantou profetas,
através da história, para chamar os homens ao arrependimento. No
Islamismo, a salvação é pelas obras. As obras de todas as pessoas serão
pesadas numa balança. Se as boas superarem as más, tal pessoa irá para o
paraíso. Os mártires irão todos para o paraíso. O inferno é para os
não-mulçumanos. É um lugar de fogo e tormento indescritível.
Assim, como no Cristianismo, a
existência de correntes de pensamentos quanto á Escatologia estão também
na esfera Islã. A maioria dos mulçumanos aceita a idéia da existência
do purgatório. O pecado imperdoável é associar algo ou alguém a Deus.
Os ortodoxos, por exemplo, obedecem
literalmente aos ensinamentos do Corão e levam a extremo a sabedoria de
Deus de forma que se arriscam a um fatalismo arbitrário e despótico. Os mutazilis
defendem a unidade absoluta de Deus, suprimindo até a possibilidade de
imaginá-lo, pois se trata de algo completamente diferente das coisas
criadas. Não aceitam o Corão como está escrito simplesmente. Entendem
que carece de interpretação. Para esse grupo, Deus não é apenas um ser
soberano, mas também justo, que castiga os maus, mas sabe recompensar os
bons. São considerados racionalistas.
É importante lembrar que os ensinamentos
de Maomé sofreram certas modificações ou acréscimos, o que é natural e
compreensível, devido às culturas dos povos que aceitaram o Islamismo.
A Escatologia Budista
O Budismo consiste num sistema ético,
religioso e filosófico fundado pelo príncipe hindu Siddhartha Gautama
(563-483 a.C.), ou Buda, por volta do século VI. O relato da vida de
Buda está cheia de fatos reais e lendas, as quais são difíceis de serem
distinguidas historicamente entre si. Mas quanto á sua Escatologia, está
revelada e descrita em suas crenças e práticas.
O Budismo consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o Nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Também creem na lei do carma,
segundo a qual, as ações de uma pessoa determinam sua condição na vida
futura. A doutrina é baseada nas Quatro Grandes Verdades de Buda:
1. A existência implica a dor. O nascimento, a idade, a morte e os desejos são sofrimentos.
2. A origem da dor é o desejo e o afeto. As pessoas buscam prazeres que não duram muito tempo e buscam alegria que leva a mais sofrimento.
3. O fim da dor só é possível com o fim do desejo.
4. A superação da dor só
pode ser alcançada através de oito passos: Compreensão correta,
Pensamento correto, Linguagem correta, Comportamento correto, Modo de
vida correto, Esforço correto, Desígnio correto e Meditação correta.
É conhecendo a teologia Budista que
chegamos aos conceitos escatológicos. No Budismo não existe nenhum Deus
absoluto ou pessoal. A existência do mal e do sofrimento é uma refutação
da crençaem Deus. Osque querem ser iluminados necessitam seguir seus
próprios caminhos espirituais e transcendentais. Na Antropologia, o
homem não tem nenhum valor e sua existência é temporária. As forças do
universo procurarão meios para que todos os homens sejam iluminados
(salvos).
Quanto a alma do homem, a reencarnação é
um ciclo doloroso, porque a vida se caracterizaem transições. Todasas
criaturas são ficções. O impedimento para a iluminação é a ignorância.
Deve-se combater a ignorância lendo e estudando.
Desta forma, entendemos que a
Escatologia Budista prega uma humanidade que está passando por um
processo de evolução espiritual e que no fim de tudo todos os habitantes
da terra poderão herdar a salvação.
A Escatologia Hindú
O Hinduísmo é a denominação do conjunto
de princípios, doutrinas e práticas religiosas que surgiram na Índia, a
partir de2000 a.C. O termo é ocidental e é conhecido pelos seguidores
como Sanatana Dharma, do sânscrito (lembramos que é a língua original da
Índia), que significa “a ordem permanente”. Está fundamentado nos
quatro livros dos Vedas (conhecimento), um conjunto de textos sagrados
compostos de hinos e ritos, no Século X, denominados de Rigveda,
Samaveda, Yajurveda e Artharvaveda. Estes quatro volumes são divididos
em duas partes: a porção do trabalho (rituais politeístas) e a porção do
conhecimento (especulações filosóficas), também chamada de Vedanta . A
tradição védica surgiu com os primeiros árias, povo de origem
indo-européia (os mesmos que desenvolveram a cultura grega) que se
estabeleceram nos vales dos rios Indo e Ganges, por volta de1500 a.C.
Não se consegue entender a Escatologia
Hindu sem primeiro compreender seu conceito de espiritualidade. Segundo
ensina o hinduísmo, os Vedas contêm as verdades eternas reveladas pelos
deuses e a ordem (dharma) que rege os seres e as coisas,
organizando-osem castas. Cadacasta possui seus próprios direitos e
deveres espirituais e sociais. A posição do homem em determinada casta é
definida pelo seu carma (a lei do carma atinge quase todas as religiões
orientais). A casta à qual pertence um indivíduo indica o seu status
espiritual. O objetivo é superar o ciclo de reencarnações (samsara),
atingindo assim, o nirvana, a sabedoria resultante do conhecimento de si
mesmo e de todo o Universo. O caminho para o nirvana, segundo ensina o
hinduísmo, passa pelo ascetismo (doutrina que desvaloriza os aspectos
corpóreos e sensíveis do homem), pelas práticas religiosas, pelas
orações e pela ioga. Assim, a pessoa alcança a “salvação”, escapando dos
ciclos da reencarnação. (Observe também que os orientais comungam
alguns conceitos básicos de espiritualidade).
Tudo é deus, deus é tudo:
o hinduísmo ensina, como no Panteísmo, que o homem está unido com a
natureza e com o universo. O universo é deus, e estando unido ao
universo, todos são deuses. Ensina também que este mesmo deus, é
impessoal. Muitos deuses adorados pelos hindus são amorais e imorais.
O mundo físico é uma ilusão:
no mundo tridimensional, designada de maya, o homem e sua personalidade
não passa de um sonho. Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento
daquilo que foi feito na encarnação passada), a pessoa deve ficar livre
da ilusão da existência pessoal e física. Através da ioga e meditação
transcendental, a pessoa pode transcender este mundo de ilusões e
atingir a iluminação, a liberação final. O hinduísmo ensina que a ioga é
um processo de oito passos, os quais levam a culminação da pessoa
transcender ao universo impessoal, no qual o praticante perde o senso de
existência individual.
A lei do carma no hinduísmo:
o bem e o mal que a pessoa faz, determinará como ela virá na próxima
reencarnação. A maior esperança de um hinduísta é chegar ao estágio de
se transformar no inexistente. Vir ser parte deste deus impessoal, do
universo.
Krishna é a oitava encarnação do deus
Vishnu, e é um dos avatares especiais do Hinduismo. Alega-se entre os
muçulmanos, que Jesus foi uma encarnação de Krishna, tendo vivido uma
vida muito semelhante. Esperam que haverá uma nova encarnação do avatar,
que foi conhecido em vários períodos da história como Vishnu, Krishna e
Jesus. Qualquer destes nomes pode ser usado por ele, mas ele vai também
ser conhecido como o Avatar Kalki, o (Avatar do Cavalo Branco), visto
que montará um cavalo branco.
O Avatar Kalki combaterá a serpente
apocalíptica e obterá a vitória final sôbre o mal na Terra. Êle renovará
a humanidade, tornando possível às pessoas viverem um vida pura e
honrosa. As expectativas de todas as religiões serão realizadas nele,
pois ele será o messias mundial que todos esperam.
A Escatologia Judaica
Historicamente, o judaísmo veio à
existência quando foi firmado o pacto abraâmico. Desde o começo o
judaísmo foi uma religião revelada e não uma religião natural ou
filosófica.
A partir do chamado de Abraão para ser o
pai de uma nação particular (a Palestina), a qual constituíra a Terra
Prometida, Deus revelou uma mensagem na História que se destinava a
tornar-se aplicável universalmente a todas as nações e todos os povos.
Mas a Teologia Judaica começa mesmo o seu desdobramento a partir da missão com Moisés e a Lei.
Os judeus são muitas vezes descritos
como o povo do Livro, porque baseiam suas vidas pela revelação de Deus
na Toráh. A Toráh são os cinco livros da Bíblia conhecidos como
Pentateuco, que além da história contêm 613 mandamentos (ou obrigações).
Nos livros encontram-se, leis, rituais, regras de higiene e leis
morais. Para os judeus, as leis fazem parte de uma revelação de aliança
com Deus.
Além da Toráh, os judeus possuem como
escrituras o Tanach (Antigo Testamento), o Talmude (explicação do
Tanach) e as Escrituras dos sábios.
A Escatologia Judaica possui uma ordem cronológica, que inclui até mesmo a construção do Templo.
A princípio, a vinda do Messias é o grande evento esperado pela nação judaica. A palavra hebraica Mashiach (ou Moshiach משיח) significa o Ungido e refere-se a um ser humano. Apesar de os cristãos usarem também a palavra “messias”, usam-na de forma diferente.
Para os sábios judeus, Jesus Cristo não
possuía as credenciais necessárias para ser considerado o Ungido, vindo
de Deus. Por isso, ainda estão a aguardar o Messias prometido, anunciado
pelos profetas de Deus. Jesus é visto como um falso messias extremista
ou como um bom rabi (mestre), que foi martirizado.
No Judaísmo, o fim do mundo é chamado de acharit hayamim (fim dos dias).
Eventos tumultuosos abalarão a velha ordem do mundo, criando uma nova
ordem na qual Deus é universalmente reconhecido como a nova Lei que
organiza tudo e todos. Uma das sagas do Talmud diz “Deixe o fim dos dias chegar, mas eu não devo estar vivo para presenciá-lo“, porque os vivos na ocasião serão submetidos a tais conflitos e sofrimentos.
De acordo com essa tradição, o fim do mundo irá presenciar os seguintes eventos:
- Reunião dos judeus na terra geográfica de Israel .
- Derrota de todos os inimigos de Israel.
- Construção do terceiro Templo de Jerusalém e a restauração dos sacrifícios e serviços nele.
- Revitalização dos mortos ou ressurreição.
Naquele momento, o Messias judeu se tornará o monarca ungido de Israel.
Quanto ao sonho de reconstruir o templo é realista e biblicamente correto; um dia ele se realizará. A Bíblia ensina explicitamente que a reconstrução se tornará realidade.
Mas a alegria será passageira e a adoração será interrompida. Como
veremos através de alguns tópicos da história e da Bíblia, o novo templo
não será nem o primeiro nem o último a ser erguido. Sua construção é
certa, mas os dias turbulentos que a acompanharão também.
A Grande Verdade sobre a Escatologia Bíblica
A Bíblia é a eterna Palavra de Deus. Foi
dada ao homem por Deus para ser o absoluto, o supremo, o competente, o
infalível e imutável padrão de fé e prática. Cremos firmemente que,
embora as tempestades de desaprovação continuem a levantar-se contra a
Palavra de Deus, a confiança do crente humilde nela é justificável e
confirmada. Este volume sagrado é e sempre será o Livro de Deus.
Não obstante, lembramos que a única
teoria que faz jus às reivindicações Bíblicas é a da inspiração Verbal
Plenária. Ela ensina que apesar de Deus usar os escritores sacros em
suas próprias línguas e estilos eles foram inspirados pelo Espírito
Santo. Toda a Bíblia foi inspirada!
Quando entramos no campo da Escatologia Bíblica, devemos atentar para duas grandes verdades:
1. A Profecia Bíblica jamais erra. Os intérpretes sim.
A Palavra de Deus jamais errou. Ela é infalível, mas por muito tempo,
têm estado sob refém de interpretações particulares, equívocos
teológicos, heresias e em nosso tempo uma avalanche de especulações
apocalípticas. Qualquer erro ou equívoco quanto a acontecimentos em
nossos dias, é de importante valia esclarecer, que, não deve ser
colocado a Palavra de Deus sob suspeita, e sim a incoerência das muitas
literaturas do gênero, as aventuras apocalípticas de determinados
escritores e a falta de visão bíblica de alguns pregadores;
2. As Diversas Correntes de Interpretações Escatológicas caminham numa mesma direção.
Nenhuma linha de interpretação Escatológica Protestante deve ser
ignorada ou ridicularizada, pois todas elas, por mais diferentes que
sejam, estão numa mesma direção Teológica. Diferente das interpretações
da Escatologia das Religiões, a Escatologia Bíblica em qualquer visão
consegue manter a pureza Doutrinária e do Evangelho, consegue preservar
as verdades acerca de Deus e Sua soberania, Jesus O Cristo e o poder do
sacrifício, mantendo seguro os princípios da Palavra de Deus. Sejam nos
seminários ou escolas de teologia, todos os pensamentos devem ser
expostos e apresentados em sua íntegra. Tanto o Pré-milenismo quanto o
Amilenismo (principais correntes) contribuem com suas interpretações e
ampliam o entendimento cristão quando estudadas ambas.
A Escatologia Bíblica se torna na Igreja
de Cristo, o poder literário que mantém acesa a chama da esperança na
volta de Jesus. É claro que esse poder literário vivo, vem diretamente
do Espírito Santo, quando lemos, cremos e mantemos nossa fé na Palavra.
Quando sabemos que a Escritura cumprirá, mesmo em meio às diversas
opiniões, independe. É inquestionável que a Bíblia no decorrer da
história permaneceu sem nenhum tipo de alteração em suas profecias. E
mais inquestionável ainda é que essas profecias se cumpriram, outras
irão se cumprir.
Crendo que muitos escritos curiosamente
apresentam uma linguagem escatológica parecida com a Bíblia, mesmo com
personagens diferentes, e conceitos espirituais de outro extremo,
concluímos que qualquer literatura religiosa tem todo o direito de expor
as profecias da Escatologia na visão de seus escritores. Enquanto isso a
Bíblia Sagrada prossegue expondo as profecias da Escatologia na visão
de Deus.
Littera scripta manet!
A escatologia das religiões