segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A igreja primitiva e o livre-arbítrio

NIcodemus falando sobre Livre Arbítrio
Por muito tempo venho ouvindo que o determinismo, doutrina calvinista da predestinação (que se contrapõe a doutrina do livre-arbítrio), isto é, por eleição incondicional dos seres humanos, uns para o bem e outros para o mal, sempre foi a doutrina predominante na igreja desde o tempo dos apóstolos. Ouvi sempre um “apelo à autoridade” de Lutero e Calvino (século XVI) e de Agostinho de Hipona (século IV), que para nós é o “pai da doutrina da predestinação”. Foi com base nos escritos deste que Calvino formulou suas teses.
Certa feita tentaram “calvinizar-me”, fazer-me um calvinista, e para tanto nos recomendaram assistir a um vídeo sobre a história do livre-arbítrio (abaixo link), afirmando que a vontade livre, historicamente, sempre foi combatido pelos líderes da igreja.
Este vídeo, do professor Augustus Nicodemus, traz muitas informações históricas relevantes, mas comete, induz a alguns erros, faltam detalhes, não ditos pelo professor no vídeo em questão, que podem levar os ouvintes a deduções erradas, sobre a história da igreja, e o sobre o(s) conceito(s) de livre-arbítrio.

O que penso ser necessário, a fim esclarecer bem a questão sobre o livre-arbítrio na história da igreja, é fazermos as devidas correções, incrementos ao que disse o ilustre professor. Vamos pontuar dois equívocos que observamos na exposição do palestrante, e esclareço que assim faço por já de ter sido “evangelizado – para o calvinismo”, ou tentaram nos convencer com base neste que o livre-arbítrio é uma heresia histórica, sempre combatida. Recentemente, conversando com um amigo, ele me informou que tornou-se um calvinista após assistir a este vídeo.
Será que o calvinismo sempre foi a (sã) doutrina da igreja(como sugerido no vídeo)? Será que a “eleição incondicional” ou a “expiação limitada (doutrina que Cristo morreu apenas por alguns, de antemão escolhidos)” foi pregada pelos pais primitivos? E o que considero mais importante – Será que foi Pelágio quem inventou o livre-arbítrio? Será?
Vamos aos 2 equívocos, que pontuaremos, do vídeo:
  1. Os Patrísticos (pais da igreja, pós-apóstolos, até o século IV) defenderam ou falaram sobre o livre-arbítrio.
  2. Pelágio x Jacobus Armius.
  1. Os Patrísticos (pais da igreja, pós-apóstolos, século I até o século IV) defenderam ou falaram sobre o livre-arbítrio?

Resposta: Quase que de forma unânime – pelo menos este “curioso”, em suas muitas pesquisas, nunca encontrou nada que possa sugerir o contrário – (a esmagadora maioria) DOS PAIS PRIMITIVOS falaram sobre ou defenderam o livre-arbítrio, como seguem textos abaixo. Isto põe por terra o argumento falacioso de que (sobre o livre-arbítrio) “a história começa por Pelágio”. Preparem-se para as descobertas:
Os pais primitivos e o livre arbítrio
JUSTINO MÁRTIR (100 à 160/165 d. C)
“Do que dissemos anteriormente, ninguém deve concluir que a consequência do que afirmamos que se sucede ocorre por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos ser de antemão conhecidos os acontecimentos. Para isso, vamos esclarecer também esta dificuldade. Nós aprendemos com os profetas e afirmamos que isto é a verdade: que os castigos e tormentos, igualmente as boas recompensas, dão-se a cada um conforme as suas obras, pois se não fosse assim e se ocorresse pelo destino, não existiria em absoluto o livre-arbítrio. Com efeito, se está determinado que este seja bom e aquele mau, nem aquele merece louvor, nem este vitupério. E se o gênero humano não tem poder para fugir por livre determinação daquilo que é vergonhoso e optar pelo belo, é irresponsável por qualquer ação que faça. Porém, que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, o demonstramos pelo seguinte argumento: vemos que o próprio sujeito passa de um extremo a outro. Pois bem: se fosse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de fazer coisas contrárias nem mudaria [seu comportamento] com tanta frequência. Na verdade, não se poderia dizer que alguns são bons e outros maus a partir do momento em que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que faz coisas contrárias a si mesmo; ou deve se ter por verdade aquilo que já anteriormente insinuamos, a saber: que virtude e maldade são meras palavras e que apenas por opinião [pessoal] se classifica algo como bom ou mau – o que, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade. O que afirmamos ser destino iniludível é que a quem escolher o bem, espera-lhes digna recompensa; e a quem escolher o contrário, espera-lhes igualmente digno castigo. Porque Deus não fez o homem da mesma forma que as outras criaturas, por exemplo, árvores e quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação, pois nesse caso não seria digno de recompensa ou louvor, nem mesmo por ter escolhido o bem, mas já teria nascido bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não agiu livremente, mas por não poder ter sido outra coisa do que foi” (1ª Apologia 43,1-8).
Justino Mártir (160 d.C): A fim de que alguns não presumam, a partir do que temos dito, que tudo acontece por uma necessidade fatal, pois é anunciado como conhecido de antemão, isso nós também explicamos. Nós aprendemos dos profetas e sustentamos ser a verdade, que as punições, castigos e boas recompensas são concedidas de acordo com o mérito das ações de cada homem. Agora, se isso não é desta forma, mas todas as coisas acontecem por destino, então, nada está em nosso próprio poder. Porque, se está predeterminado que este homem será bom e esse outro homem será mau, nem é o primeiro digno de mérito nem o último culpado. E novamente, a menos que a raça humana tenha o poder de evitar o mal e escolher o bem por livre escolha, eles não são responsáveis por suas ações. (A Dicitionary of Early Christian Beliefs, editado por David W. Bercot, pg 285, publicado por Hendrickson, 1998) (tradução Walson Sales)
“Deus, desejando que tanto homens quanto anjos seguissem a sua vontade, resolveu criá-los livres para fazer a justiça. Mas se a Palavra de Deus prediz que certos anjos e certos homens serão certamente castigados, ela fez isso porque sabia previamente que eles seriam irremediavelmente [ímpios], mas não por terem sido criados assim. (DJ, 1.142).” (citado por Norman Geisler, T. S. v.2, pg 77)

IRINEU (130 à 200 d. C)
“Esta frase: ‘Quantas vezes quis acolher os teus filhos, porém tu não quiseste!’ (Mateus 23,37), bem descobriu a antiga lei da liberdade humana, pois Deus fez o homem livre, o qual, assim como desde o princípio teve alma, também gozou de liberdade, a fim de que livremente pudesse acolher a Palavra de Deus, sem que Este o forçasse. Deus, com efeito, jamais se impõe à força, pois n’Ele sempre está presente o bom conselho. Por isso, concede o bom conselho a todos. Tanto aos seres humanos como aos anjos outorgou o poder de escolher - pois também os anjos usam sua razão -, a fim de que àqueles que lhe obedecem possam conservar para sempre este bem como um dom de Deus que eles guardam. Ao contrário, não se encontrará este bem naqueles que O desobedecem e por isso receberão o justo castigo, porque Deus certamente lhes ofereceu benignamente este bem, mas eles não se preocuparam em conservá-lo, nem o acharam valioso, mas desprezaram a bondade suprema. Assim, portanto, ao abandonar este bem e até certo ponto rejeitá-lo, como razão serão réus do justo juízo de Deus, do qual o Apóstolo Paulo dá testemunho em sua Carta aos Romanos: ‘Por acaso desprezas as riquezas de sua bondade, paciência e generosidade, ignorando que a bondade de Deus te impulsiona a arrepender-te? Pela dureza e impenitência do teu coração, tu mesmo acumulas a ira para o Dia da Cólera, quando se revelará o justo juízo de Deus’ (Romanos 2,4-5). Ao contrário, diz: ‘Glória e honra para quem opera o bem’ (Romanos 2,10). Deus, portanto, nos deu o bem, do qual dá testemunho o Apóstolo na mencionada Carta, e aqueles que agem segundo este dom receberão honra e glória, porque fizeram o bem quando estava em seu arbítrio o não fazê-lo; ao contrário, aqueles que não agirem bem serão réus do justo juízo de Deus, porque não agiram bem estando em seu poder fazê-lo. Com efeito, se alguns seres humanos fossem maus por natureza e outros bons por natureza, nem estes seriam dignos de louvor por serem bons, nem aqueles condenáveis, porque assim teriam sido criados. Porém, como todos são da mesma natureza, capazes de conservar e fazer o bem, e também capazes de perdê-lo e não fazê-lo, com justiça os seres sensatos – quanto mais Deus! – louvam os segundos e dão testemunho de que decidiram de maneira justa e perseveraram no bem; ao contrário, reprovam os primeiros e os condenam retamente por terem rejeitado o bem e a justiça. Por esse motivo, os profetas exortavam a todos a agir com justiça e a fazer o bem, como muitas vezes explicamos, porque este modo de nos comportar está em nossas mãos; porém, tendo tantas vezes caído no esquecimento por nossa grande negligência, nos fazia falta um bom conselho. Por isso o bom Deus nos aconselhava o bem por meio dos profetas” (Contra as Heresias 4,37,1-2) (textos dos pais da igreja primitiva podem ser encontrados no sites indicados ao final)
Se não dependesse de nós o fazer e o não fazer, por qual motivo o Apóstolo, e bem antes dele o Senhor, nos aconselharia a fazer coisas e a nos abster de outras? Sendo, porém, o homem livre na sua vontade, desde o princípio, e livre é Deus, à semelhança do qual foi feito, foi-lhe dado, desde sempre, o conselho de se ater ao bem, o que se realiza pela obediência a Deus. (Contra Heresias, IV, 37. 1.4) (também citado por Norman Geisler em “eleitos, mas livres”, pg 171)
Clemente de Alexandria ( 150-c. 215 d. C.)
Nos que ouvimos pelas Sagradas Escrituras que a escolha autodeterminada e a recusa foram dadas pelo Senhor aos homens, descansamos no critério infalível da fé, manifestando um espírito desejoso, já que escolhemos a vida e cremos em Deus por intermédio da sua voz. (S, H2.4)” (citado na Teologia Sistemática, Norman Geisler, v 2, pg 78)
“Não somente o crente, mas até mesmo o descrente, é julgado mais retamente. Pois, desde que Deus soube em virtude de sua presciência que essa pessoa não acreditaria, Ele, entretanto, a fim de que ele possa receber a sua própria perfeição, deu-lhe a filosofia antes da fé.” (A Dicitionary of Early Christian Beliefs, editado por David W. Bercot, pg 284, publicado por Hendrickson, 1998)
“A soberania e o livre-arbítrio são compatíveis, pois muitas coisas na vida surgem no exercício da razão humana, tendo recebido a faísca incandescente de Deus. [...] Agora, todas estas coisas têm verdadeiramente origem e existência por causa da providência divina — contudo, não sem a cooperação humana também (5, 6.17, em ibid.).” (Citado em Teologia Sistemática Norman Geisler, V 1, pg 1024).
Orígenes ( 185 a 254 d. C.)
“Está também definido na pregação da Igreja que toda alma racional possui vontade e livre-arbítrio, e que há também para ela uma luta a ser travada contra o demônio e seus anjos e forças adversas, já que eles trabalham para onerá-la de pecados, enquanto que nós, se vivermos retamente e com conselho, devemo-nos esforçar em nos despojarmos deste jugo. Deve-se entender, por conseguinte, que ninguém de nós
está submetido à necessidade, de tal modo que, ainda que não queiramos, sejamos a qualquer custo obrigados a fazer coisas boas ou más.” (De Principiis, cap 5) (Obs: seria uma citação, em dias atuais, exatamente  e diametralmente contrária ao que prega o calvinismo)
“Isto também é claramente definido no ensino da igreja de que cada alma racional é dotada de livre-arbítrio e volição.” (De Principiis, prefácio) Há, de fato, inúmeras passagens nas Escrituras que estabelecem com extrema clareza a existência da liberdade de vontade.” (De Principiis, 3.1) (citado por Geisler, em “Eleitos, mas livres, pg 173-174)”

Jerônimo ( 347-420 d. C.)
Este é um dos pais, junto com Justino Mártir, são os que mais apresentam semelhanças, em seus escritos, com as obras de Jacob Arminius (http://www.arminianismo.com/index.php/o-que-e-o-arminianismo) e os remonstrantes (http://www.arminianismo.com/index.php/o-que-e-o-arminianismo)(seguidores da teologia de Armínio), expressões como “precisa de ajuda”, ou “carece de auxílio (da graça) de Deus”, lembra e muito o que 1.300 anos depois repetiu Jacob Arminius.
Vejamos:
Em vão me deturpas e tentas convençer os ignorantes que eu condeno o livre-arbítrio. Que aquele que condena, seja por si mesmo condenado, pois fomos criados com o dom do livre-arbítrio [...] E verdade que a liberdade da vontade traz consigo a liberdade de decisão. Contudo o homem não age imediatamente a partir do seu livre-arbítrio, mas precisa da ajuda de Deus, que e o único que não precisa ser ajudado. (LSJ,II.VI. 1.33.10) (citado em Teologia Sistemática, Geisler, v2, pg 79)
“Quando nós estamos preocupados com a Graça e misericórdia, o livre-arbítrio é parte anulada; em parte, eu digo, porque tanto depende dele, que queremos e desejamos, e damos consentimento ao curso que escolhemos. Mas depende de Deus se temos o poder em sua força e com sua ajuda para fazer o que desejamos, e para o nosso trabalho e esforço darem resultado.” (Contra Pelagianos, Livro III) (Eleitos, mas livres, pg 76)
Poderíamos citar muitos outros, Novaciano, Teófilo, Tarcianio, Tertuliano, Metódio, Cirilo de Jerusalém…
Mas  gostaríamos de comparar o que lemos, do pais primitivos, com algumas palavras de Calvino e de Armínio, para que você leitor possa verificar qual teólogo, em suas teses teológicas, se aproximou mais do que pregaram os pais primitivos da igreja. Os que crêem na predestinação ou os que pregam o livre-arbítrio?
Calvino
“Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus pelo qual ele determinou consigo mesmo aquilo que ele quis que ocorresse a cada ser humano. A vida eterna é preordenada para alguns e a perdição eterna para outros, falando deles como predestinados para a vida ou para a morte”. (Institutas, volume III, pg 388)
(para os predestinados a perdição) - “àqueles que Deus despreza ele reprova, e faz isso não por outra razão senão porque ele quer excluí-los da herança que Deus predestinou aos que escolheu por seus filhos. Qual é a causa do decreto da reprovação de Deus? É o soberano e bom prazer de Deus. Nenhuma outra causa pode ser aduzida senão à sua soberana vontade. Quando, portanto, alguém perguntar por que Deus fez assim, devemos responder: porque ele quis.” (citado em KLOOSTER, Fred H. A doutrina da predestinação em Calvino. p. 38).
Até Calvino reconhece que, em defesa do livre-arbítrio, os patrísticos, assim são chamados os líderes, podem ser citados:
“Sei que eles podem citar a Orígenes e a Jerônimo como partidários de sua exposição. Eu poderia, de minha parte, opor-lhes também Agostinho. O que, porém, esses patrísticos tenham opinado, em nada nos é relevante, se é evidente o que Paulo quis dizer. Aí ele ensina que a salvação foi preparada exclusivamente para aqueles a quem o Senhor julga dignos de sua misericórdia; ruína e desolação subsistem a quantos elenão escolheu. Sob o exemplo de faraó, ele mostrara a sorte dos réprobos [Rm 9.17];” (intitutas, II, pg 101)
Por óbvio, que as declarações de Jean Calvino, sobre o assunto em questão, em nada lembram ou se parecem com o que pregaram os primeiros líderes da igreja, pós era apostólica.
Outros Calvinistas, como Alister E. McGrath, reconhecem o fato de que os líderes da igreja primitiva pregaram o livre-arbítrio. Veja site:http://www.arminianismo.com/index.php/categorias/diversos/artigos/89-v-paul-marston-e-roger-t-forster/1197-a-igreja-primitiva-e-o-livre-arbitrio
O que um calvinista atual pode fazer é dizer algo como Calvino “em nada nos é relevante”, contudo consideramos relevante saber os que aqueles que ouviram as pregações dos Apóstolos (e dos posteriores primeiros discípulos apostólicos) sobre estas doutrinas. Criam na predestinação incondicional ou no livre-arbítrio? Como vimos, criam (todos, ou no mínimo quase todos) no livre-arbítrio.
Um determinista, pesquisando muito encontrará textos defendendo a doutrina da corrupção da natureza humana, fragmentos que falam de “Eleição”, “Eleitos”, “escolhidos”, em alguns textos de Hilário de Poitiers[315-367], Gregorio Naziazeno[329-389], Cirilo de Jerusalém, Ambrósio de Milão[340-397], mas nenhum deles defendendo ou apoiando a predestinação calvinista. Por outro lado, não é necessário pesquisar muito para encontrarmos textos dos quatro primeiros séculos da era cristã, e em toda a história da igreja, em defesa do livre-arbítrio.
Vejamos agora o que diz Jacob Armínio, vez que no vídeo foi apontado como aquele que reviveu as doutrinas do herege (assim foi considerado) Pelágio. (compare com o que diz Justino e Jerônimo, será interessante)
(O homem e o livre-arbítrio, carecem da graça, da ajuda de Deus)
“Em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina.”
“Com referência à Graça Divina, creio, (1.) É uma afeição imerecida pela qual Deus é amavelmente afetado em direção a um pecador miserável, e de acordo com a qual ele, em primeiro lugar, doa seu Filho, “para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna,” e, depois, ele o justifica em Cristo Jesus e por sua causa, e o admite no direito de filhos, para salvação. (2.) É uma infusão (tanto no entendimento humano quanto na vontade e afeições,) de todos aqueles dons do Espírito Santo que pertencem à regeneração e renovação do homem – tais como a fé, a esperança, a caridade, etc.; pois, sem estes dons graciosos, o homem não é capaz de pensar, desejar, ou fazer qualquer coisa que seja boa. (3.) É aquela perpétua assistência e contínua ajuda do Espírito Santo, de acordo com a qual Ele age sobre o homem que já foi renovado e o excita ao bem, infundindo-lhe pensamentos salutares, inspirando-lhe com bons desejos, para que ele possa dessa forma verdadeiramente desejar tudo que seja bom; e de acordo com a qual Deus pode então desejar trabalhar junto com o homem, para que o homem possa executar o que ele deseja.”
“Desta maneira, eu atribuo à graça o começo, a continuidade e a consumação de todo bem, e a tal ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta graça preveniente e excitante, seguinte e cooperante. Desta declaração claramente parecerá que de maneira nenhuma eu faço injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre-arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à solução desta questão, “a graça de Deus é uma certa força irresistível”? Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualquer um,) mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível ou não. A respeito da qual, creio, de acordo com as escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é oferecida.” (Extraído de As Obras de James Arminius Vol. I)
“Quanto graça e livre arbítrio, isto é o que eu ensino, segundo as Escrituras e o consentimento ortodoxo: o livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer verdade e o bem espiritual, sem graça. Que eu não possa dizer, como Pelágio, para a prática de ilusão em relação à palavra “graça”, eu quero dizer com isso que é a graça de Cristo e que pertence à regeneração. Afirmo, portanto, que essa graça é simplesmente e absolutamente necessária para a iluminação da mente, a ordem de vencimento das afeições, e a inclinação da vontade para o que é bom. É esta a graça que opera sobre a mente, os afetos e da vontade, o que infunde bons pensamentos na mente, inspira bons desejos em ações, e dobra a vontade de continuar em execução pensamentos bons e bons desejos. Esta graça precede, acompanha e segue; excita, assistências, opera que iremos, e coopera para não irmos em vão. Ele evita tentações, assistências e subsídios socorrer no meio das tentações, sustenta o homem contra a carne, o mundo e Satanás, (…). Ela levanta-se novamente aqueles que foram conquistados e caíram(…). Esta graça começa a salvação, promove e aperfeiçoa e consuma. Confesso que a mente de um homem natural e carnal é obscura e escura, que as suas afeições são corruptas e desordenado, que sua vontade é teimosa e desobediente, e que o próprio homem está morto em pecados.” (Obras de James Arminius, volume II)

É muito claro que Armínio era contrário as idéias de Pelágio e dos pelagianos, assim como Jerônimo, falou do livre-arbítrio e ao mesmo tempo combateu os pelagianos. Assim como fizera Agostinho, em seu livro “O Livre-arbítrio”.
(mas) O que fez então, no século IV, Pelágio?
Pelágio, ao contrário dos pais primitivos que pregavam o livre-arbítrio juntamente com a doutrina da corrupção da natureza humana, doutrina que posteriormente foi chamada pelos reformadores de “depravação total”, pregou uma doutrina do “homem puro”, que o pecado original, de Adão, afetou apenas ele. Que “o homem nasce puro”, e “pode permanecer puro, se quiser, independente do auxílio de graça”. James Arminius, e os pais da igreja nunca disseram isso.
O que Pelágio fez não foi apenas modificar a soteriologia (doutrina da salvação), mas toda cosmovisão cristã e antropologia humana, dizendo que todo homem nasce puro. O que é um tremendo equívoco, mas não é propósito deste artigo demonstrar os erros de pelágio, o vídeo do professor já fez isso bem.
O que nos importa, é separar as idéias de Pelágio dos pais primitivos e de Jacob Armínio. Pelágio trouxe uma inovação antropológica, e não é o pai do livre-arbítrio, como por muitos é sugerido. O que ele ensinou foi outra coisa, infelizmente, também nomeada de “livre-arbítrio”, mas totalmente diferente do que os pais primitivos ensinaram.
Quando alguém falar novamente sobre o livre-arbítrio, você já sabe que esta história (defendida pelos patrísticos) começa muito antes de Pelágio, e sempre foi predominante na igreja, como ainda é hoje, até o século XVI. Somente no período da reforma, e séculos posteriores, as doutrinas calvinistas ganharam destaques de doutrinas da igreja “reformada”, e nem todos concordavam com ela (Ex: Anabatistas, remonstrantes), esta doutrina nunca foi unânime, nunca ficou sem oposição de homens notáveis, como Menno Simons, Baltasar Hubmaier (anbatistas), Armínio, Simon Epicopus, Hugo Grotios (remonstrantes), John Wesley, John Fletcher (metodistas)… incontáveis nomes.
O que nos importava neste artigo era demonstrar duas coisas.
  1. O livre-arbítrio foi a doutrina pregada pelos pais da igreja, e não nasceu com Pelágio;
  2. James Arminius não pregou ou reviveu as doutrinas de Pelágio, pelo contrário, as combateu, revivendo as doutrinas de igreja primitiva.
Espero que tenha ficado claro para todos.
“Se, pois, o filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres.” Jo 8.36
Um forte abraço. E que a Graça e Paz de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
Sites (ou artigos) indicados para consultas dos textos citados ou informações históricas adicionais. Obs: os sites católicos são os que possuem mais documentos dos pais primitivos, a igreja católica é que detém os documentos.

autor

Flávyo Henrique

Flávyo Henrique


Pastor, evangelista da PIB - Macapá/AP. Formado e pós-graduado em Gestão Pública, Trabalha como Analista Judiciário - área administrativa da SJAP (Justiça Federal). (Contato flavyohenriquesantos@hotmail.com)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Augustus Nicodemus como a maiorias dos calvinistas começa logo de cara com aquela hermenêutica que todos conhecemos: selecionando textos aqui, forçando outros ali, empurrando outros, sempre tendo o objetivo final de mascarar esteticamente o determinismo calvinista e concluir assim que a melhor exegese soteriológica é a deles.



Selecionei os trechos que se segue para destrinchá-los.


"A chave para entendermos Romanos 9 é a intenção de Paulo, o que ele quer mostrar? A resposta está nos versículos iniciais, 1-5. Ele está triste porque Israel rejeitou Jesus Cristo. Este fato poderia levantar a questão de que a promessa de Deus havia falhado (verso 6). Paulo evita este problema explicando que a promessa foi feita aos descendentes espirituais de Abraão e não aos seus descendentes físicos. Nem todos de Israel são filhos de Deus (verso 6-7)."



Se realmente a chave está nos versículos iniciais, então não deveria ter usado o 2.  "Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração." Paulo teria tristeza  por saber que Deus tem seus eleitos para salvação(Judeu ou não) ou ele teria tristeza por ver que os judeus rejeitaram voluntariamente o Messias? Na primeira hipótese, segue-se que Paulo prega o determinismo,  mas tem tristeza, não aceita o que prega. Muito estranho considerando que estamos falando do Apóstolo Paulo que aceitava qualquer situação por amor ao evangelho. Ele segue dizendo: "Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;".  O motivo da  tristeza dele está claramente explicado, e de nenhuma forma é uma tristeza tendo em vista o plano de Deus e sim, por seus irmãos hebreus terem deliberadamente rejeitado o Messias e assim Deus ter concedido salvação aos gentios. De fato, o Messias, o Senhor Jesus Cristo, veio e os judeus não o reconheceram (Jo 1:11). Paulo afirmou esta mesma verdade em Romanos 10.16-21 . Em virtude da rejeição de Jesus como Messias, pensa-se que os judeus foram rejeitados, ou seja, perderam a oportunidade de serem salvos. Se esta for uma concepção correta, o que dizer das promessas de caráter eterno de que eles são povo e nação exclusiva de Deus? O contexto imediato que se segue é a demonstração que Deus não é infiel, ele é justo e cumpre suas promessas mesmo Israel o rejeitando. "Eles foram escolhidos enquanto indivíduos, embora, certamente, esta escolha venha a ter algum reflexo em seus descendentes (versos 8-13). O ponto de Paulo é que somente os escolhidos de entre a nação de Israel é que creram (e crerão) em Cristo. São indivíduos escolhidos de entre uma nação, para a salvação. Desta forma, Paulo mostra que as promessas de Deus a Israel não falharam, pois dentre a nação Deus sempre escolheu soberanamente, e não por obras, aqueles israelitas individuais que viriam a crer em Jesus Cristo, como o próprio Paulo." (e item I)Aqui Nicodemus não leva em consideração entre tatas outas passagens a de João 1:12: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome." Certamente a escolha de cada um não foi predestinada, eles tiveram que receber o Messias, tiveram que crer, enquanto a maioria não quiseram aceitar e inclusive,  perseguiram Jesus, assim como perseguiram outros profetas. Isso fica bem claro em Lucas 13:34: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?"



"(2) A eleição de Jacó sobre Esaú (Romanos 9:10-13) pode ter implicações nacionais, mas começa com dois indivíduos. Não podemos esquecer este fato. (3) Jacó foi eleito e Esaú rejeitado antes que tivessem feito algo de bom ou ruim. O texto está falando de indivíduos que podem fazer o bem e o mal. Não fala de nações que sairiam deles e que fariam bem ou mal. O bem e o mal referido é de pessoas, indivíduos, chamados Jacó e Esaú."


Sim, de fato começa com dois indivíduos, mas não tem relação nenhuma com eleição deles para salvação. É incluído no contexto um outro caso, o de Isamel, e em cada um,  Paulo demonstra a escolha de Deus para garantir a sua promessa de redenção, tendo uma nação separada para o nascimento do Messias. Não dá para dizer que Esaú ou Ismael foram predestinados para não serem salvos. Longe disso, o Anjo abençoa Hagar e Isael no deserto de Padã-Arã e Isaque abençoa igualmente a Esaú(ainda que com uma benção inferior a de Jacó). A forte expressão “odiei a Esaú” no versículo 13 deve ser vista como um típico exempo de hipérbole oriental, que expressa as coisas em termos de extremos. Além disso, na língua hebraica “amar” geralmente significa “favorecer”, e “odiar” pode significar “favorecer ou amar menos”. Observe, por exemplo, que em Gênesis 29.21, 33, a RSV traduz a palavra hebraica odiar literalmente, enquanto a NIV traduz a palavra como “não amada”. Essa versão reconhece, à luz de Gênesis 29.30, que Jacó amava Lia menos do que Raquel; ele não a “odiava”.  A  palavra hebraica para odiada é traduzida “não amada” na NIV e “desprezada” na RSV. Portanto, é sensato dizer que com tudo isso, a rejeição de Esaú por parte de Deus não significa necessariamente que este foi predestinado para não ter salvação. Ele foi rejeitado simplesmente para Jacó e seus descendentes serem  favorecido no plano de redenção. Ainda em relação às palavras "odeie a Esaú", certamente que devem serem entendidas como ódio ao pecado que os descendentes dele cometeram, ou seja, Edom. A única coisa que faz com que Deus odei alguém é o pecado. Nicodemus parece não considerar outros versículos do capítulo,  p. ex,   12, que diz que o "maior servirá ao menor". Isso nunca aconteceu com Esaú em relação a Jacó, mas com os povos descendentes deles."(4) Rom. 9:15 enfatiza a soberania de Deus na escolha de indivíduos. "Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia." O pronome “quem” é um singular masculino. Se Paulo estivesse falando de nações, poderia ter usado um pronome plural.



(5) Rom 9:16 está claramente lidando com pessoas: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre”. “Quem quer” θέλοντος e “quem corre” τρέχοντος são dois singulares masculinos. É difícil ver implicações nacionais em tudo aqui. É sobre o desejo e esforço individual."


Paulo mostra aqui que a aparente injustiça de Deus nas escolhas apenas indica que a  misericórdia e compaixão de Deus são absolutamente livres e estão ao seu soberano dispor. Ninguém pode obtê-las em troca de alguma coisa; ninguém as merece. Nem os judeus que aceitaram , nem os judeus que rejeitaram e nem os gentios. “Compadecer-me-ei de quem me compadecer” significa “Eu não exigirei obras,” v. 11, pois então nenhuma misericórdia jamais seria demonstrada, pois ninguém é capaz de prover as obras necessárias para a salvação. Em outras palavras, a eleição de Deus deriva de sua misericórdia e compaixão. Isso nos leva a crer que a vontade de Deus é “livre, porém não arbitrária”. Portanto, no versículo 16 é expresso que não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de Deus usar sua misericórdia. Isso coaduna com o versículo 11 onde diz que não é por obras, mas por aquele que chama. A extensão da misericórdia  é total e emana unicamente de Deus.  Tudo que é listado nos v. 4, 5 era pura misericórdia aos israelitas; tudo que os cristãos, judeus e gentios, agora têm é a mesma pura misericórdia. É interessante que Paulo emprega um passagem de Êx 33.19 que é uma  resposta a um pedido de Moisés de um alto privilégio(“Rogo-te que me mostres a tua glória!”). Deus concede, não porque ele o merece, mas de graça, porque ele “terá misericórdia de quem ele tiver misericórdia, e se compadecerá de quem ele se compadecer.” A passagem, conforme empregada por Paulo, afirma que Deus favorece nações de acordo com sua vontade, mas o apóstolo usa  explicitamente a pessoa de Moisés  como exemplo, o que justifica o pronome "quem" que Paulo usa. "




(6) Rom 9:18 fala do endurecimento de Faraó, um indivíduo. Não está tratando do endurecimento do Egito, mas da pessoa de seu rei, Faraó. Após falar do endurecimento, Paulo resume o que ele está tentando dizer usando pronomes singulares masculinos: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”. Se Paulo estava falando de eleição e endurecimento de nações, ao terminar o exemplo pessoal e individual de Faraó ele deveria ter dito que ele endurece e tem misericórdia das nações que quer."



Paulo nesses versículos usa Faraó como paradigma para Israel. Sempre questionei o porquê de usarem Faraó para defender que Deus queria mostrar seu poder e para isso precisaria necessarimente usar Faraó. Não haveria necessidades de tantas tentativas de alerta por parte de Moisés e Arão. Outra, chega ser óbvio que um imperador egipcio cercado de todo paganismo já era endurecido no sentido de não querer libertar Israel por natureza. Por outro lado, a presença de Israel e o testemunho do que José tinha feito no passado e mais as primeiras demonstrações do poder de Deus através de Moisés foram  suficente para que antes de ser endurecido ele tivesse oportunidades de se arrepender. Transcrevo aqui as palavras de Godet:  “O que não deve ser esquecido, e o que aparece claramente, de toda a narrativa em Êxodo, é que o endurecimento de Faraó, foi inicialmente um ato seu. Cinco vezes é dito dele que ele mesmo endureceu, ou tornou pesado seu coração (Êx 7.13; 7.22; 8.15; 8.32; 9.7), antes da vez quando é finalmente dito que Deus o endureceu (Êx 9.12), e mesmo depois disso é dito que ele endureceu a si mesmo (Êx 9.34). Assim ele inicialmente fechou seu próprio coração aos apelos de Deus; ficou mais firme pela resistência obstinada sob os julgamentos de Deus, até que finalmente Deus, como punição por sua rejeição obstinada do direito, entregou-o à sua louca insensatez e afastou seu julgamento.”. Como arminiano acredito piamente em endurecimento divino, certamente que sim, porém isso não significa que Deus os "endurecidos" são predestinados a condenação, o próprio termo endurecer denota uma ação iniciada em alguém antes não endurecido e não signifca que uma vez endurecido, endurecido para sempre. Mas forçar o exemplo de Faraó é a máxima da doutrina calvinista."




(7) A objeção em Rom. 9:14, “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus?” - faz pouco sentido se Paulo estivesse falando sobre a eleição corporativa ou nacional. A acusação de injustiça poderia facilmente ser respondida se Paulo estivesse dizendo que a eleição de Deus é apenas em relação às nações e não tem a intenção salvadora. (8) Da mesma forma, a objeção em Rom. 9:19 fica totalmente sem sentido se Paulo não estiver falando de eleição individual. “Algum de vocês vai me dizer: “Se é assim, como é que Deus pode encontrar culpa nas pessoas? Quem pode ir contra a vontade de Deus?” (NTLH). A questão que o opositor de Paulo está levantando é que Deus parece injusto com indivíduos, ao endurecer alguns e ter misericórdias de outro como lhe apraz, e não com nações."



Mais uma vez ele força o texto para dizer aquilo que ele quer. A questão não é apenas do opositor,  é também de Paulo, desde o início do capítulo, Paulo também está triste. O endurecimento não é a causa da aparante injustiça de Deus e consequente tristeza de Paulo sim,  as tantas promessas feitas a Israel e que por conta deles terem rejeitado, essas bençãos terem passado para os gentios,  que não era o povo da promessa. Isso em primeira análise, parece ser injustiça, gentios terem parte na herença de Israel era inconcebível. Esta liberdade de Deus, em sua eleição de raças e não eleição de outras, ter escolhido Israel e depois ter acrescentado os gentios no plano de salvação não faz violência à sua justiça? Não é injusto que Deus escolha uma nação e rejeite outra? A resposta a esta questão é agora dada. Paulo mostra que as Escrituras reconhecem esta liberdade, e estas Escrituras, reverenciadas pelo objetor judeu a quem ele está escrevendo, não atribuiria injustiça a Deus."





(10) Em Rom 9:24 Paulo diz que Deus chamou os “vasos de misericórdia”, que Ele preparou para glória “de antemão” (são os eleitos mencionados no capítulo todo) “não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios”. É difícil ver eleição nacional aqui, pois Deus chamou estas pessoas "dentre" todas as nações, ἐξ Ἰουδαίων (de entre os judeus) e também ἐξ ἐθνῶν (de entre os gentios). Os vasos de misericórdia, que são a descendência espiritual de Abraão, em quem se cumprem as promessas, são chamados por Deus de entre na nação de Israel e de entre as nações gentílicas."



Aqui está o pivô da interpretação calvinista,  "vasos de misericórdia X vasos de ira". Para eles, vasos de misericórdia são os predestinados para a salvação e os vasos de ira, os predestinados para condenação. Não é isso que Paulo quer concluir com essa analogia dos vasos. Me parece que os calvinistas acrescentam a esses versículos o seguinte: Vasos de ira serão vasos de ira eternamente e vasos de misericórdia serão vasos de misericórdia para sempre. Mas o texto não diz isso, posso tranquilamente interpretar a luz de outras analogias que Paulo fazia relacionando vasos, como é o caso de 2Tm 2.21: "De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra". A afirmativa de Paulo não tem um caráter imutável e estático. O próprio Paulo antes de sua conversão era certamente um vaso de desonra. Qualquer eleito antes de ter um encontro pessoa com Cristo é um vaso de desonra. Alías Paulo sequer tem por fim, falar de salvação, antes, está exaltando a soberania divina, como bem frisou Jonh Wesley: " E quanto mais não tem Deus direito sobre suas criaturas, para designar um vaso, a saber, o crente, para honra e um outro, a saber, o incrédulo, para desonra? Se examinar o direito que Deus tem sobre nós de um modo mais geral, no que tange às suas criaturas inteligentes, Deus pode ser considerado de dois ângulos diferentes: como criador, proprietário e Senhor de tudo, ou como seu governador e juiz." Vasos de misericórdia não são os eleitos, são judeus e gentios que aceitaram as boas novas de salvação e vasos de desonra são os que rejeitam a salvação, a desonra é exatamente isso, o que mais seria? "




(11) Em Romanos 11:1-10, quando Paulo volta a falar da eleição de israelitas individuais de entre Israel étnico, fica claro que os eleitos são pessoas de entre a nação de Israel, os sete mil que não dobraram o joelho a Baal (Rm 11.4), aos quais Paulo se refere como “a eleição da graça” (Rm 11.5). Isso nos diz duas coisas: 1) eles são sete mil indivíduos que Deus tem mantido crentes dentro da nação de Israel, e não uma nova nação. 2) Esses indivíduos são mantidos por Deus na fé no Deus verdadeiro, não se curvando diante de Baal (ou seja, eles permaneceram fiéis a Deus). Ou seja, a eleição mencionada por Paulo é de indivíduos para a salvação"



Apelar para Romanos 11: 1-10  e a passagem de Elias e os sete mil não foi uma boa ideia.

"Esses indivíduos são mantidos por Deus na fé no Deus verdadeiro, não se curvando diante de Baal (ou seja, eles permaneceram fiéis a Deus). Ou seja, a eleição mencionada por Paulo é de indivíduos para a salvação."


Esses indivíduos são mantidos por Deus na fé no Deus verdadeiro ou são mantidos POR TEREM FÉ e não terem se desviado?


Possíveis traduções de 1 Reis 19:18

Almeida corrigida e fiel: "Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou."

Versão católica: "Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e cujos lábios não o beijaram.

NVI: "No entanto, fiz sobrar sete mil em Israel, todos aqueles cujos joelhos não se inclinaram diante de Baal e todos aqueles cujas bocas não o beijaram"

Vulgata: "Et relinquam mihi in Israel septem milia: universorum genua, quae non sunt incurvata ante Baal, et omne os, quod non osculatum est eum ”.

Onde 'Et relinquam' é traduzido por "Eu deixei".


Pelo contexto que temos nos capítulos 16,17 e 18 percebe-se claramente que todos aqueles que se manteram fiel ao Deus de Israel foram perseguidos e muitos até deixaram Israel, outros se esconderam, o caso de Elias.  Todo os habitantes de Israel que haviam entrado para o caminho da adoração a Baal seriam destruídos e apenas seriam poupados aqueles que não haviam dobrado seus joelhos. Deus deixou ficar os sete mil fiéis em Israel. Ele não predestinou que eles fossem fiéis.


Como sempre, somente é possível chegar a conclusão que o Augustus Nicodemus e outros calvinistas chega, forçando o texto, o que é definitivamente típico dos calvinistas.


Por: Samuel Fernando
site: http://deusamouomundo.com/

terça-feira, 11 de junho de 2013

O currículo de Escola Dominical CPAD é um aprendizado que acompanha toda a família. A cada trimestre, um reforço espiritual para aqueles que desejam edificar suas vidas na Palavra de Deus. Neste 3º trimestre de 2013, estudaremos Filipenses: A humildade de Cristo como exemplo para a igreja. 
Os comentários das lições será feito pelo Pastor Elienai Cabral
Consultores Doutrinários e Teológicos: Pr. Antonio Gilberto e Pr. Claudionor de Andrade


Sumário


1-  Paulo e a igreja em Filipos
 
2-  Esperança em meio à adversidade
 
3-  O comportamento dos salvos em Cristo
 
4-  Jesus, o modelo ideal de humildade
 
5-  As virtudes dos salvos em Cristo
 
6-  A fidelidade dos obreiros do senhor
 
7-  A atualização dos conselhos Paulinos
 
8-  A suprema aspiração do crente
 
9-  Confrontando os inimigos da cruz de Cristo
 
10- A alegria do salvo em Cristo
 
11- Uma vida cristã equilibrada
 
12- A reciprocidade do amor cristão
 
13- O sacrifício que agrada a Deus

Clique aqui e conheça o livro tema deste trimestre Filipenses: A humildade de Cristo como exemplo para a igreja.

Fonte: CPAD

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